8.12. Relações entre equações estocásticas e equações aleatórias

Em muitas situações, é possível transformar uma equação estocástica em uma aleatória, e vice-versa.

De equações aleatórias para estocásticas

Considere uma equação diferencial aleatória da forma

dXtdt=f(t,Xt,Λt), \frac{\mathrm{d}X_t}{\mathrm{d}t} = f(t, X_t, \Lambda_t),

e suponha que o processo {Λt}t\{\Lambda_t\}_t seja um processo de Itô satisfazendo uma equação diferencial estocástica

dΛt=a(t,Λt)dt+σ(t,Λt)dWt, \mathrm{d}\Lambda_t = a(t, \Lambda_t)\mathrm{d}t + \sigma(t, \Lambda_t)\mathrm{d}W_t,

para um dado processo de Wiener {Wt}t.\{W_t\}_t.

Formalmente, podemos reescrever a equação diferencial aleatória como um sistema de equações estocásticas,

d(XtΛt)=(f(t,Xt,Λt)a(t,Λt))+(0σ(t,Λt))dWt. \mathrm{d}\left(\begin{matrix} X_t \\ \Lambda_t \end{matrix}\right) = \left(\begin{matrix} f(t, X_t, \Lambda_t) \\ a(t, \Lambda_t) \end{matrix}\right) + \left(\begin{matrix} 0 \\ \sigma(t, \Lambda_t) \end{matrix}\right)\mathrm{d}W_t.

Este é um sistema da forma

dUt=F(t,Ut)+Σ(t,Ut)dWt, \mathrm{d}U_t = F(t, U_t) + \Sigma(t, U_t)\mathrm{d}W_t,

onde

Ut=(XtΛt),F(t,Ut)=(f(t,Xt,Λt)a(t,Λt)),Σ(t,Ut)=(0σ(t,Λt)). U_t = \left(\begin{matrix} X_t \\ \Lambda_t\end{matrix}\right), \quad F(t, U_t) = \left(\begin{matrix} f(t, X_t, \Lambda_t) \\ a(t, \Lambda_t)\end{matrix}\right), \quad \Sigma(t, U_t) = \left(\begin{matrix} 0 \\ \sigma(t, \Lambda_t)\end{matrix}\right).

Observe que o processo YtY_t entra, na equação aleatória, como um termo externo, enquanto que, na equação estocástica, ela é uma variável dependente; uma "incógnita" da equação.

De estocásticas com ruído aditivo para aleatórias

Considere uma equação diferencial estocástica com ruído aditivo, na forma

dXt=f(t,Xt)dt+σ(t)dWt. \mathrm{d}X_t = f(t, X_t)\mathrm{d}t + \sigma(t)\mathrm{d}W_t.

Observe que, aqui, estamos assumindo que o termo de ruído σ(t)\sigma(t) é independente do processo Xt,X_t, daí o termo "aditivo". Caso contrário, sendo σ=σ(t,Xt),\sigma = \sigma(t, X_t), o termo de rúido é denominado multiplicativo.

No caso aditivo, é possível transformar facilmente essa equação estocástica em uma aleatória. Nessa passagem, um elemento importante é o processo de Ornstein-Uhlenbeck {Ot}t,\{O_t\}_t, que satisfaz à equação diferencial estocástica

dOt=Otdt+σ(t)dWt. \mathrm{d}O_t = - O_t \mathrm{d}t + \sigma(t) \mathrm{d}W_t.

Considerando um "mudança de variáveis" para o processo Zt=XtOt,Z_t = X_t - O_t, temos, formalmente,

dZt=dXtdOt=f(t,Xt)dt+σ(t)dWt+Otdtσ(t)dWt=(f(t,Xt)+Ot)dt, \mathrm{d}Z_t = \mathrm{d}X_t - \mathrm{d}O_t = f(t, X_t)\mathrm{d}t + \sigma(t)\mathrm{d}W_t + O_t \mathrm{d}t - \sigma(t) \mathrm{d}W_t = (f(t, X_t) + O_t)\mathrm{d}t,

o que nos leva, finalmente, à equação diferencial aleatória

dZt=(f(t,Zt+Ot)+Ot)dt, \mathrm{d}Z_t = (f(t, Z_t + O_t) + O_t)\mathrm{d}t,

ou seja,

dZtdt=g(t,Zt,Ot), \frac{\mathrm{d}Z_t}{\mathrm{d}t} = g(t, Z_t, O_t),

com

g(t,Zt,Ot)=f(t,Zt+Ot)+Ot. g(t, Z_t, O_t) = f(t, Z_t + O_t) + O_t.

O caso multiplicativo em que o ruído é linear, i.e. σ(t,Xt)=σ0(t)+σ1(t)Xt,\sigma(t, X_t) = \sigma_0(t) + \sigma_1(t)X_t, também pode ser considerado, através da transformação de Doss-Sussmann. Generalizações para o caso de um ruído multiplicativo qualquer também foram obtidas recentemente, mas a técnica é bem mais envolvida.



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