O modelo clássico (processo de Wiener) para o movimento Browniano de uma micro-partícula em um determinado meio é fundamentado na ação causada pelo bombardeamento aleatório das partículas do meio, mas não leva em consideração o momento da partícula. De fato, cada colisão acarreta diretamente em uma mudança de posição da micro-partícula, influenciando a taxa de variação de posição (i.e. velocidade), ao invés de acarretar em uma mudança na taxa de variação de momento (ou de aceleração). Uma alternativa a esse modelo é a equação de Langevin
dtdvt=−νvt+σξt
onde ν>0, σ>0, vt representa a velocidade da partícula no instante t e ξt é um ruído branco, modelado por dWt/dt.
Essa é uma versão estocástica das equações de movimento de Newton. O primeiro termo do lado direito representa um termo viscoso, com uma resultante de forças proporcional à velocidade da partícula. O segundo termo do lado direito representa a ação causada pelo bombardeamento aleatório das partículas do meio. O termo viscoso representa um bombardeamento "médio" ordenado, condizente com a ideia de que a maior parte do bombardeamento ocorre à frente do objeto, conjugada com uma atração molecular das partículas que ficam para trás, puxando a partícula no sentido contrário ao do seu movimento. Em cima desse bombardeamento médio, gerando a viscosidade, temos as flutuações desordenadas dos bombardeamentos, representado pelo ruído branco.
Em termos da posição xt da partícula em cada instante t, o modelo de Langevin toma a forma
x¨t=−νx˙t+σηt.
No entanto, a derivada de um processo de Wiener não está bem definida no sentido clássico, de modo que a equação de Langevin tem apenas um sentido heurístico. Um modelo rigoroso utilizado com esse mesmo sentido físico é o processo de Ornstein-Uhlenbeck {Ot}t≥0, dado como solução da equação diferencial estocástica
dOt=−νOtdt+σdWt,
onde Ot é interpretado como sendo uma variável aleatória representando a velocidade da partícula no instante t.
A solução dessa equação é
Ot=e−νtO0+σ∫0te−ν(t−s)dWs.
De fato, somando e subtraindo 1 nos dois termos e renomeando a variável de integração, temos
Ot=O0+(e−νt−1)O0+σ∫0t(e−ν(t−τ)−1)dWτ+σ∫0tdWs.
Usando o Teorema Fundamental do Cálculo, escrevemos
Ot=O0−ν(∫0te−νsds)O0−νσ∫0t(∫τte−ν(s−τ)ds)dWτ+σ∫0tdWs.
Trocando a ordem de integração do terceiro termo e reescrevendo o segundo termo, obtemos
Ot=O0−ν∫0te−νsO0ds−νσ∫0t∫0se−ν(s−τ)dWτds+σ∫0tdWs
Juntando o segundo e o terceiro termos, chegamos a
Ot=O0−ν∫0t(e−νsO0+σ∫0se−ν(s−τ)dWτ)ds+σ∫0tdWs.
O integrando do segundo termo é precisamente Os, de modo que
Ot=O0−∫0tνOsds+∫0tσdWs.
Isso significa, exatamente, que {Ot}t≥0, conforme definido acima, satisfaz a equação diferencial estocástica
dOt=−νOtdt+σdWt.
De outra forma, escrevendo
Ot=e−νtO0+σe−νt∫0teνsdWt,
e derivando informalmente os produtos, vemos que
dOt=−νe−νtO0dt−σνe−νtdt∫0teνsdWt+σdWt=−νOtdt+σdWt.
Bom, essas contas mostram que a fórmula acima nos dá, de fato, uma solução da equação. Mas como podemos chegar na solução a partir da equação? Podemos usar um fator de integração dado pelo termo de drift, a saber, eνt. Dessa forma, temos
d(eνtOt)=νeνtOtdt+eνtdOt=νeνtOtdt+eνt(−νOtdt+σdWt)=σeνtdWt.
Integrando, obtemos
eνtOt−O0=σ∫0teνsdWs.
Isso nos dá, exatamente, a solução
Ot=e−νtO0+σ∫0te−ν(t−s)dWs.
Da fórmula
Ot=e−νtO0+σ∫0te−ν(t−s)dWs,
como a esperança da integral de Itô é nula, deduzimos que
E[Ot]=e−νtE[O0].
Calculando a média quadrática, temos
Ot2=e−2νtO02+2σe−νtO0∫0te−ν(t−s)dWs+σ2(∫0te−ν(t−s)dWs)2.
Usando que O0 é independente do processo de Wiener, o termo misto se anula. Assim, usando a isometria de Itô no último termo, obtemos
E[Ot2]=e−2νtE[O02]+σ2∫0te−2ν(t−s)ds=e−2νtE[O02]+2νσ2(1−e−2νt).
Com isso,
Var(Ot)=E[Ot2]−E[Ot]2=e−2νt(E[O02]−E[O0]2)+2νσ2(1−e−2νt),
de modo que
Var(Ot)=e−2νtVar(O0)+2νσ2(1−e−2νt).
Observe que
E[Ot]→0,Var(Ot)→2νσ2,quando t→∞.
Além disso, para 0≤t1<t2,
Ot1Ot2=e−ν(t1+t2)O02+σe−νt1O0∫0t2e−ν(t2−s)dWs+σe−νt2O0∫0t1e−ν(t1−s)dWs+σ2(∫0t1e−ν(t1−s)dWs)(∫0t2e−ν(t2−s)dWs)
Novamente, a esperança dos termos mistos se anula, nos dando
E[Ot1Ot2]=e−ν(t1+t2)E[O02]+σ2E[(∫0t1e−ν(t1−s)dWs)(∫0t2e−ν(t2−s)dWs)].
Como t2>t1, separamos o segundo integral em duas partes,
∫0t2e−ν(t2−s)dWs=∫0t1e−ν(t2−s)dWs+∫t1t2e−ν(t2−s)dWs.
Pela propriedade dos processos de Wiener, o segundo termo é independente da outra integral, ou seja,
E[(∫0t1e−ν(t1−s)dWs)(∫t1t2e−ν(t2−s)dWs)]=E[(∫0t1e−ν(t1−s)dWs)]E[(∫t1t2e−ν(t2−s)dWs)]=0.
Sobram, então,
E[Ot1Ot2]=e−ν(t1+t2)E[O02]+σ2E[(∫0t1e−ν(t1−s)dWs)(∫0t1e−ν(t2−s)dWs)].
A isometria de Itô na versão de dois integrandos diferentes nos dá
E[Ot1Ot2]=e−ν(t1+t2)E[O02]+σ2∫0t1e−ν(t1−s)e−ν(t2−s)ds=e−ν(t1+t2)E[O02]+σ2e−ν(t1+t2)∫0t1e2νsds=e−ν(t1+t2)E[O02]+2νσ2e−ν(t1+t2)(e2νt1−1)=e−ν(t1+t2)E[O02]+2νσ2(e−ν(t2−t1)−e−ν(t1+t2)).
Para t1,t2≥0 arbitrários, isso nos dá, por simetria,
Cov(Ot1,Ot2)=e−ν(t1+t2)Var(O0)+2νσ2(e−ν∣t2−t1∣−e−ν(t1+t2)).
Para t1=t e t2=t+τ,
Cov(Ot,Ot+τ)=e−ν(2t+τ)Var(O0)+2νσ2e−ντ(1−e−2νt).
Assintoticamente em t→∞, temos
Cov(Ot,Ot+τ)∼2νσ2e−ντ,
ou seja, para τ≫1/ν, os processos estão essencialmente descorrelacionados. O parâmetro 1/ν funciona como uma escala de tempo para o correlacionamento.
Veremos, abaixo, como isso pode ser usado para se obter uma aproximação de um ruído branco.
Interpretando um processo de Ornstein-Uhlenbeck como representando a evolução da velocidade de uma partícula, podemos obter a posição integrando esse processo. Nesse caso, é comum denotarmos o processo de Ornstein-Uhlenbeck, modelando a equação de Langevin, como {Yt}t≥0, de modo que a posição fica sendo dada por
Xt=X0+∫0tYsds.
Podemos, ainda escrever ambos os processos como solução do sistema de equações diferenciais estocásticas
{dXt=Ytdt,dYt=−νYtdt+σdWt,
com condições iniciais
Xt∣t=0=X0,Ot∣t=0=O0.
Essa é a versão rigorosa da equação de segunda ordem
x¨t=−νx˙t+σηt.

O processo de Orstein-Uhlenbeck {Ot}t≥0, conforme definido acima, tem a propriedade E[Ot]=E[O0]e−νt→0, quando t→∞ (veja os Exercícios). Nesse caso, podemos dizer que a média assintótica é nula e que o processo "reverte", assintoticamente, a essa média nula. Mais geralmente, podemos adicionar um termo extra νμdt de drift aditivo, nos levando à equação
dO^t=−ν(O^t−μ)dt+σdWt.
Escrevendo Ot=O^t−μ, vemos que {Ot}t≥0 é um processo de Orstein-Uhlenbeck sem o termo extra:
dOt=−νOtdt+σdWt.
Como E[Ot]→0, quando t→0, então E[O^t]=E[Ot]+μ→μ, ou seja, a esperança de {O^t}t≥0 converge para a média μ. Assim, o processo de Orstein-Uhlenbeck é um exemplo de mean-reverting process, ou "processo que reverte à média".
Nos exercícios abaixo, considere o sistema
{dXt=Ytdt,dYt=−νYtdt+σdWt,
Mostre que
E[Yt]=E[Y0]e−νt.
Mostre que
E[Xt]=E[X0]+ν1E[Y0](1−e−νt).
Para Y0=y0 determinístico, calcule a variância Var(Yt).
Para X0=x0, Y0=y0 determinísticos, calcule a variância Var(Xt).